Bem vindos

Depois de alguns anos de pesquisa na região, que inclui os municípios de Catu, Pojuca e São Sebastião do Passé, resolvi disponibilizar parte dos dados (imagens, sons, mapas, informações...) de nossas pesquisas. A intenção é disponibilizar informações para a comunidade local e despertar o interesse pela biodiversidade na região, tão ameaçada e ainda pouco estudada. Muitos ficarão surpresos com as informações que divulgaremos por aqui, principalmente em relação às espécies da flora e fauna que ainda habitam as nossas florestas.

A maior parte dos estudos na região foi realizada no âmbito do Projeto Olho-de-fogo-rendado: Estudo e Conservação, da ABCRN (Associação Baiana para Conservação dos Recursos Naturais). Sem o apoio de muitos parceiros as ações desse projeto não seriam possíveis, e entre eles destacamos o Critical Ecosystem Partnership Fund (CEPF) – chamado no Brasil de Fundo de Parceria para Ecossistemas Críticos, Fundação Biodiversitas, CEPAN (Centro de Pesquisas Ambientais do Nordeste), Fundação O Boticário de Proteção a Natureza, Halliburton, RSPB (Royal Society for the Protection of Birds), SAVE Brasil e a Aliança para Conservação da Mata Atlântica. Uma aliança importante entre a ABCRN e o Instituto Amuirandê ampliaram algumas ações de conservação na região.

sexta-feira, 12 de março de 2010

As espécies ameaçadas de extinção na região


Muitos sabem que há um grupo de animais e plantas considerados ameaçados de extinção. Quem não fez um trabalho de escola ou até mesmo não ouviu falar em algumas espécies durante a semana de meio ambiente? Hoje está tudo mais fácil. Uma simples busca pela internet vai nos levar, rapidamente, a vários sites que apresentam a lista de espécies consideradas ameaçadas de extinção no país. Essa lista nacional é de responsabilidade do Ministério do Meio Ambiente. Há outra lista, ao nível global, que é de responsabilidade da IUCN (International Union for Conservation of Nature) e indica quais são as espécies ameaçadas de extinção de todo o planeta. Essas listas são utilizadas para a tomada de decisões em direção a proteção e conservação dos habitats dessas espécies.
Quando comecei a trabalhar com uma espécie ameaçada de extinção surgiu uma curiosidade: conhecer o quanto as pessoas sabiam sobre o assunto. Resolvi fazer uma pesquisa informal com algumas pessoas na região. Essa pesquisa tinha apenas três perguntas, bem simples: (1) você conhece o nome de alguma espécie ameaçada de extinção? (2) você conhece, ou melhor, já viu (digo ao vivo e a cores) alguma espécie ameaçada de extinção? (3) você acredita que possa existir alguma espécie ameaçada de extinção na região, digo em Catu, São Sebastião ou Pojuca? A maioria das respostas a primeira pergunta foi um sim, e sempre acompanhada do nome de algumas espécies, como: arara-azul, onça-pintada, mico-leão, tigre, urso-panda, entre outras.  A quase totalidade de respostas a segunda pergunta foi um não: poucas pessoas disseram ter visto pessoalmente uma espécie ameaçada, e quem viu foi em um zoológico. A totalidade das respostas a terceira pergunta foi um não, e muito enfático. Cheguei a ouvir: “imagine, aqui em Catu, São Sebastião ou Pojuca, uma espécie ameaçada de extinção, claro que não”.
Essa pesquisa, tão simples, mostrou que embora alguns conheçam o nome de várias espécies ameaçadas de extinção, mesmo que nenhuma exista por aqui e outras só em outros continentes, poucos tiveram um contato pessoal com alguma. Também chamou minha atenção o fato da grande maioria desconhecer que nossa região tem espécies ameaçadas. Isso mesmo, nossa região também abriga algumas espécies ameaçadas de extinção, assim como a arara-azul, a onça e o mico-leão. Uma das diferenças entre estes e as espécies que ocorrem por aqui é a fama, ou seja, são menos conhecidos, por enquanto.  
     Para torná-los conhecidos, principalmente para nossa região, vamos apresentar essas espécies e um pouco da biologia e ecologia de cada uma. Nossa intenção é chamar a atenção para as espécies ameaçadas que estão ao nosso redor, nas nossas matas. Esperamos despertar o interesse local pela proteção dessas espécies, e inevitavelmente dos seus habitats.


O olho-de-fogo-rendado
     Conhecido no meio científico como Pyriglena atra, o Olho-de-fogo-rendado é uma das espécies de aves ameaçadas de extinção que ocorrem no Brasil. Foi apresentado à ciência pelo naturalista inglês Willian Swainson em 1825 e é um dos pássaros brasileiros pouco estudados, apesar de ser conhecido, pelo menos, há 180 anos. O macho é preto (foto acima), com algumas penas no dorso margeadas de branco, enquanto a fêmea (foto abaixo) é amarronzada.

Onde existe
     O olho-de-fogo vive apenas em florestas de uma estreita faixa da Mata Atlântica brasileira. No mapa ao lado as pequenas manchas verdes são as poucas matas que ainda existem, entre os rios Paraguaçu, na Bahia, e São Francisco, extremo norte de Sergipe. Em algumas ainda é possível encontrar o olho-de-fogo. Algumas matas da região ainda abrigam o Olho-de-fogo-rendado, como por exemplo a Mata Fome, em Catu, e a Mata da Campina, em São Sebastião do Passé.

Sobre sua história natural
     Com cerca de 30 a 35g (um pouco maior que um pardal), o olho-de-fogo tem como principal alimento os insetos. O hábito de acompanhar as formigas-de-correição, que são formigas carnívoras (alimentam-se de insetos, aranhas, etc.) é muito comum, e nesse momento é possível encontrá-los ao pares, macho e fêmea, ou em grupos de até 25 indivíduos.
     As formigas-de-correição (ver foto) ao “marcharem” pelo chão da mata vão espantando vários animais (besouros, aranhas, grilos, gafanhotos, etc.), que fogem pulando, correndo, voando, como é possível; nesse momento o olho-de-fogo aproveita para capturá-los. Essa talvez seja a principal maneira que esse pássaro encontrou para capturar seu alimento; seguindo as formigas-de-correição.
     O ninho do olho-de-fogo é construído no chão: uma pequena bola irregular de folhas secas com entrada lateral. Põe de um a dois ovos de cor bege claro com manchas marrom. Macho e fêmea se revezam na incubação e criação dos filhotes, tanto para alimentá-los ou protegê-los. Macho e fêmea cantam e podem ser ouvidos a longas distâncias (ouça o Olho-de-fogo-cantando)

Situação do ambiente onde vive

     A Mata Atlântica está desaparecendo a cada dia. As ricas e exuberantes florestas que existiam quando os portugueses descobriram o Brasil foram dia-a-dia perdendo área para a pecuária e agricultura. Isso ainda acontece nos dias atuais. O fogo, a caça, a captura de animais silvestres e a retirada de madeira são outras atividades que ameaçam o que restou de Mata Atlântica.
     Na nossa região a exploração das riquezas do subsolo (petróleo) foi responsável por criar uma infra-estrutura de acesso a muitas áreas florestais. O resultado não poderia ser outro: facilidade no escoamento de produtos das matas, principalmente a madeira para lenha, serrarias, carvoarias, entre outros. Se perdemos boa parte das nossas matas, obviamente perdemos com elas parte da nossa biodiversidade e dos seus serviços ambientais.

3 comentários:

Jau Castro disse...

Meu Compade, confesso que fiquei arrepiado ao ver este maravilhoso Blog!
Realmente, as Lans estão em franco crescimento na região, portanto, é salutar a divulgação das belezas que guarda o pouco que restou da exuberante Mata Atlântica! Desejo que as autoridades regionais ligadas à educação, promovam este Blog, façam dele um instrumento a ser utilizado nas escolas destes municípios!
Mais uma vez parabéns pela iniciativa e conclusitiva, pelas belíssimas imagens, e mais ainda, pelo excelente profissional que vc é: Um verdadeiro Biólogo da Conservação!

Grande abraço,

Compade Jaelson

Unknown disse...

LUNGAAA, q delicia ler esse blog!! PARABENS continue a trilhar esse caminho maravilhoso!!

SAUDADE!!

Mari

Paulo disse...

Excelente pesquisa! Estou montando um banco de dados digital sobre a nossa cidade. Posso incluir este texto com os devidos créditos?

Postar um comentário